Prosseguindo a breve discussão iniciada no post anterior, sob o mesmo título, - leia aqui - quero me deter às questões que fazem referência ao campo educacional, mas que ultrapassaram seus limites. Uma primeira proposição foca nas opiniões que permeiam o debate. Identificamos duas posições bem claras e definidas quanto à questão; é claro que corremos o risco de generalizarmos, todavia a proposta é esclarecer quaisquer dúvidas acerca do que será colocado aqui. A primeira posição é dos grupos religiosos – católicos e evangélicos principalmente – que “demonizam” o “kit gay” e seus defensores. Usando de argumentos bíblicos evocam a “família tradicional” como base da sociedade e o risco que traria a introdução deste material na escola. Alegam que o kit incentiva, induz, instiga e outros sinônimos, a comportamentos homossexuais. A segunda posição é defendida pelos grupos que advogam os direitos dos homossexuais que, fazendo referência, ao direito à diversidade e outras garantias constitucionais, acreditam que a utilização do material irá contribuir para a diminuição dos preconceitos e da discriminação às crianças e adolescentes que manifestam comportamentos homossexuais. Qual destes grupos está correto? Qual proposta defender? Antes de responder a estas questões vamos finalizar nossas proposições. Nossa segunda proposição se concentra em como a mesa do debate se apresenta e como estas duas posições se enfrentam. Parece que os grupos religiosos enxergam a figura do homossexual como uma aberração e/ou desvio da natureza, passível de conserto e do outro lado os grupos em defesa dos homossexuais retratam os religiosos como homofóbicos, preconceituosos e antiquados. Não se trata aqui de querer uma simples posição de consenso, porém, é preciso apontar que as duas posições erram em andar pelas veredas do extremismo. Talvez o debate não avance porque temos figuras como Jair Bolsonaro que “está se lixando para o movimento gay”; homens como Marco Feliciano que se utiliza das Escrituras para extrair (quero acreditar que com muito esforço) uma pauta anti-homossexual “abominando suas práticas promiscuas”. Temos ainda, parlamentares como Jean Wyllys, ex-estrela BBB, que propõe o “casamento gay” numa sociedade como a nossa. Defende o PL 122 e se declara abertamente contrário aos cristãos. Tais figuras dificultam o amplo debate, não contribuindo, portanto, para que tais questões avancem efetivamente. Em terceiro lugar, cito mais uma vez o conflito tão mencionado pelo grande sociólogo judeu-alemão Georg Simmel. Para Simmel, o conflito é necessário nos processos de socialização e para que a sociedade continue a existir. Não se trata de guerras ou conflitos armados, mas dos conflitos diários e cotidianos construídos nas relações. Simmel prefigura uma valorização do conflito, embora não trate exatamente de processos identitários. Como mencionei anteriormente, penso que o conflito é necessário, porém é preciso entender sua natureza.
Assim, encerrando esta discussão, tentaremos “responder” as perguntas colocadas acima. Qual destes grupos está correto? Nenhum! Quando cada grupo evoca sua identidade (na busca de recursos), também evoca seus símbolos e referências, distintos entre os grupos. Qual proposta defender? As duas! Por serem distintas cada uma tem suas particularidades e é óbvio que tratam a questão de forma diferente. O ponto chave, é como o grupo faz a defesa de sua identidade ou de suas proposições. Como disse, não sou a favor de extremismos, o discurso pode ter muita importância no processo de busca de soluções, não dos conflitos, porque eles sempre existirão. Tenho medo das ditaduras sejam elas gay ou cristã. Me aflige pensar em um Brasil só de católicos, só de evangélicos, e por que não, um Brasil só de gays.
Allisson Goes
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