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"Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis."
Brecht

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Indiferença ou luta, fracasso ou conquista: uma reflexão sobre a profissão docente em MG

No dia 31 de maio de 2011 os trabalhadores em educação de Minas Gerais decidiram em assembleia iniciar uma greve pela imediata implementação da lei 11.738/08, a lei do Piso Salarial Nacional. Desde o dia 08/06 os educadores mineiros estão em greve e se mobilizando para pressionar o governo do estado a pagar o piso salarial nacional.
Nesse breve texto, gostaria de refletir um pouco sobre a situação do professorado mineiro. Mais do que discutir a situação dos profissionais do magistério,  nosso objetivo é também registrar algumas impressões sobre o papel dos professores nesse processo que temos denominado de sucateamento da profissão docente.
Os problemas da profissão docente são muitos, e vão desde a desvalorização salarial até mesmo o total descrédito da profissão no meio social , e porque não dizer, no meio acadêmico também. Se há alguns anos a figura da "professorinha" era uma figura de prestígio, de respeito e sinônimo de boa formação, hoje, quando muito, a palavra "professor" inspira pena, ou comentários do tipo: “tadinho”! As perguntas direcionadas aos docentes do ensino público municipal e estadual são: “Mas porque você escolheu isso?”; “Você é doido?”; “Como você aguenta?”; “Por quê não larga esta profissão?”, etc.
Não é segredo para ninguém o total desprestígio que vive o magistério e não é para menos. Poucas profissões são tão desvalorizadas quanto as ligadas às licenciaturas. Salários baixos, cobranças exorbitantes, avaliações de desempenho, altíssima carga de trabalho, adoecimento em função das atividades, são alguns fatores que fazem com que os professores sejam os profissionais menos invejados na sociedade brasileira. Não bastasse, há ainda o total desprezo das autoridades governamentais por esta classe, vista como numerosa e por isso dispendiosa, uma classe que reclama muito e oferece poucos resultados. Desta forma, recai, então, sobre os ombros dos docentes, apenas, a responsabilidade do sucesso e dos insucessos dos alunos das escolas públicas tão sucateadas pelo poder público.
Já é lugar comum entre profissionais da educação atribuir aos governantes o crescente desprestígio do educador na sociedade. Quando se trata de salário então, comumente, os profissionais do magistério atribuem exclusivamente aos governantes a falta de políticas salariais que de fato sejam condizentes com a importância do educador e da sua formação. De fato, nossos governantes pouco apreço têm pela educação. O professor então, é figura desprezível  aos olhos das autoridades. Terão aqueles que se insurgirão contra essa afirmação, dizendo que o professor é um profissional de grande relevância na sociedade e que, portanto, é descabido dizer que ele seja desprezado pelas autoridades governamentais. Todavia, trata-se apenas de um discurso. Nada disso é observado na prática interior à escola e na remuneração do magistério no Brasil. Um dos problemas do sistema educacional brasileiro é que ele privilegia a educação apenas nos discursos,  especialmente em período eleitoral. Porém não há este ou aquele governo que tenha tido a competência de efetivamente extrapolar o universo do discurso, das ideias e de fato, investido em ações concretas em educação e na carreira de quem a faz, o professor.
A importância do professor e da educação habita o universo das ideias e nada mais. Se não fosse assim, os professores não sofreriam com os baixos salários, com a violência nas escolas, com a precarização das condições de trabalho, etc. Essas são mazelas históricas da educação brasileira,  que não mudam de um dia para o outro, é fato. É preciso ações pontuais e radicais agora para que  a sociedade usufrua dos seus direitos  daqui a alguns anos. Mas para que haja essa mudança de médio  prazo, é necessário, como já dissemos, investimentos e ações no agora, sob pena de sacrificarmos professores e alunos das escolas públicas por mais algumas dezenas de anos.
Portanto, é acertado atribuir a culpa do caos educacional às autoridades governamentais. Todavia, faz-se necessário aos professores, olhar para si e para a seu próprio posicionamento diante de tamanha calamidade em que nós educadores nos encontramos. Cabe então perguntarmos: será que eu tenho contribuído? Para onde vai a minha contribuição? Essas são perguntas relevantes e que podem nos revelar, que a despeito da falta de responsabilidade dos governantes e do desrespeito como tratam os educadores, nós profissionais da educação, muitas vezes também somos responsáveis pelo estado de miséria em que nos encontramos. Também somos responsáveis por tamanho descrédito da nossa profissão. Afirmo isso baseando-me no fato de que temos falhado enquanto categoria. Isso porque sofremos cabisbaixos a todos os desmandos dos governos. Não questionamos junto à sociedade os projetos pedagógicos falidos impostos pelas secretarias de educação, resolvemos internamente todas as contradições da escola pública, e, como dizem por aí,"nos viramos nos trinta" para resolvermos a falta de livros na escola, a falta de material didático, de folhas, de xerox, enfim. Somos os heróis da escola pública. Mas, heróis para quê? Para quem e de quem? Enquanto estamos dentro de sala de aula sofrendo com todas a mazelas que já conhecemos no sistema público de ensino, vemos nossos salários e nossas carreiras sendo achatadas. Vemos a imposição de salas de aula lotadas,  e a já mal cuidada saúde dos profissionais do magistério se esvaindo. Mas estamos calados, estamos dentro de sala de aula esperando que da mesma forma que fazemos o papel de heróis e heroinas, apareça um grande herói para salvar a educação, para salvar os educadores deste grande "Leviatã" que se tornou a escola pública. Infelizmente, outros heróis não aparecerão.
Os heróis deverão ser os próprios professores que, deixando de lado seus interesses pessoais e  seus medos, precisarão se erguer desse lugar de julgo a que estão submetidos. Precisarão ter mais coragem do que a necessária para enfrentar a hostil sala de aula. Deverão extrapolar os muros da escola, fechando-as se necessário. Indo para rua e mostrando a toda sociedade o seu valor. O desafio é fazer-se  respeitado, fazer-se valorizado. Se há descaso, esse é consentido. Muitos estão na rua lutando e exigindo seu valor, mas há também os covardes e arredios que preferem se fechar na sala de aula, fingindo uma satisfação que já não há. Desfrutam de conquistas que não têm seu nome e se recusam a conquistar quando a luta já está travada.
É preciso, portanto, que os heróis das salas de aula o sejam de fato, fora delas.
Por: Adriano José de Paula

Um comentário:

  1. Quero saber até quando nós professores, enquanto categoria, vamos nos omitir frente a todo esse descaso. Enquanto uns lutam, outros se conformam... Belíssimo texto! Parabéns!

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