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"Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis."
Brecht

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A Polêmica do “Kit Gay” e os Processos Identitários na Escola: para além do respeito às diferenças - PARTE 1

Depois de ler e ouvir diversos comentários sobre o chamado “kit gay” pensado e elaborado pelo Ministério da Educação (MEC) decidi debruçar-me sobre o fato-objeto que provocou muito alvoroço e incômodo nestas últimas semanas. É claro que a questão não pode e nem deve ser esgotada em algumas linhas, mas quero contribuir no sentido de esclarecer alguns pontos fundamentais suscitados durante os calorosos debates.
Em meu imaginário há uma marcação pejorativa no termo “kit gay” que, creio eu, foi nomeado pela imprensa de forma geral. Ao ser nomeado de tal forma o material que será ou não distribuído pelo MEC já chega à “mesa” do debate com uma carga preconceituosa o que dificulta ainda mais o entendimento do que se pretende fazer com o material e o ponto onde se quer chegar. Não esqueçamos que a linguagem, mesmo vazando como afirma Tomaz Tadeu Silva (2006), é um sistema que marca oposições binárias entre o que é e o que não é, nesse caso entre o “gay” e o “não-gay”. Não é o fato de denominar somente, mas como esse processo ocorre.
Para mim, o conflito deve existir. Ele é real, necessário e evidente. No ambiente escolar as construções identitárias seguem a mesma lógica das outras. A identidade emerge a partir do conflito e nas percepções das diferenças. “Identidade e diferença são, pois, inseparáveis (WOODWARD, 2006)”. O discurso multicultural no contexto escolar só amarga o processo educacional e sua declaração de fé do respeito às diferenças na escola e da convivência pacífica entre os diferentes esconde algo tão importante quanto à diferença: O próprio conflito. Pensar numa retórica de construção das identidades no ambiente escolar sem conflito é como fechar os olhos para um mar de diferenças que emerge neste processo.
É preciso pensar para além da convivência pacífica, dos discursos homogeneizantes e porque não do respeito as diferenças na escola? As questões que devem estar no cerne são a hierarquização das identidades no conflito, privilégios e benefícios para determinadas identidades e subjugação para outras. Quanto vale ser católico, negro, ribeirinho ou gay? O que vale mais? Todos são processos de identificação que estão em conflito.
Entender as nomeações, os conflitos e acima de tudo as posições identitárias no contexto escolar é um bom começo para aprofundar o debate sobre a inserção ou não de materiais que dizem respeito a “costumes”, termo usado pela presidenta Dilma. 
 Allisson Goes


Referências
WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA,
Tomaz Tadeu da (Org). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2006
SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. SILVA, Tomaz Tadeu da (Org). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2006

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